sexta-feira, 6 de julho de 2012

a inércia é o preço pago pela consciência

       Inércia não é a ausência de movimento, mas sim a ausência na variação do movimento. É assim que andam as coisas agora, sem variações. Isso não quer dizer que não existe movimento, existe, mas a variação é algo com a qual estou evitando ter contato nos últimos tempos.
       Dá medo - depois de tudo que eu passei para conseguir me recuperar e enfim fechar a grande ferida que foi feita - de entrar em algo que cause uma ferida maior em cima de toda essa cicatriz. Parei para pensar que tirando as coisas boas, em 90% do tempo que eu passei do lado de alguém, só sofria e me estressava. Claro, devido as minhas neuroses e conflitos de personalidade, coisas típicas de um relacionamento. Eu sofria e não notava, ainda por cima gostava disso. Só consegui notar todo o estrago causado depois que a pessoa foi embora. E se isso acontecer outra vez? Morro de medo, sabe. Agora penso em todas as consequências, por mais de uma vez, já quando me interesso por alguém. Penso: será que vale mesmo a pena tudo isso? Quero e sinto saudade da parte boa, mas poxa, não vou aguentar sofrer e depois cair no mundo real novamente. E como eu não guardo mais expectativas das pessoas, nem dá vontade de tentar de novo. Não quero novas cicatrizes. Fico parada apenas me interessando e logo desistindo, pensando em todo sofrimento que posso ter, além de gostar e não ser correspondida, etc, e fico aqui, seguindo a vida com a minha inércia. Tendo uma vida, mas com as variações inexistentes.

sábado, 17 de março de 2012

Fraturas, dias frios e solstícios

Tudo pode ser facilmente comparado a um acidente grave que causou uma fratura.
Logo após o acidente, você é levada a férias na Patagônia, no inverno, sem consulta prévia. Fica lá por semanas, perdida, sem motivos para querer aquecer-se e sair. Quase morre de hipotermia. Nem é preciso descrever a dor excruciante que tudo isso causa na fratura. Depois de um certo tempo até consegue sair de lá, ir para uma cidade com clima temperado, onde as noites são um pouco frias demais, solitárias, e a fratura incomoda um pouco. Com o decorrer do tempo se acostuma, junta dinheiro, muda-se para outra mais quente e sem períodos de frio. Ela não lhe incomoda mais.
Você encontra atividades que sempre te deixem aquecida, fazendo assim com que esqueça que a fratura existe. Só que, quando menos espera vem um solstício de inverno, e a noite mais longa do ano é também a mais fria e dolorosa. Você não encontra paz, apenas dor. A fratura, que parecia curada, incomoda e muito. Não apenas ela, mas a marca que o tempo deixou em sua pele. A marca é o que mais incomoda, não a fratura em si. Ela já está curada, não é mesmo? Mas todos sabemos que quando você quebra um osso, mesmo logo após muito tempo, em dias frios ela sempre vai te incomodar, aquele osso sempre vai doer. Vez em quando você será levada a uma cidade fria, por algumas horas talvez, não mais dias inteiros. Solstícios ocorrerão duas vezes ao ano, o que mais te incomodará acontecerá apenas uma vez. Depois você aprende a burlar a noite mais longa e fria do ano, aprende a se agasalhar e ficar bem. Analgésicos e cobertores serão seus melhores amigos. A marca talvez não te incomode mais.
Porque o pior de tudo não é o acidente, mas sim a marca que ele deixou em você.


Os motivos de lamento já não são mais os mesmos. O conformismo já instalou-se de tal modo em minha vida que o único motivo de lamento passou a ser a marca profunda que ficou em mim, agora.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Xícaras

Cá estou eu acordada de madrugada novamente, apenas com a compania da minha xícara de café. Engraçado que apesar de ninguém conhecido já ter usado ela lembro de muita gente apenas olhando-a. É estranho esse estado de nostalgia-de-algo-que-eu-nunca-vivi estar acontecendo de maneira tão frequente nos últimos dias. A ansiedade me mata, os sentimentos também. Sentimentos desconhecidos, sabe? Ontem tava vendo o dia amanhecer e lembrei de uma utopia onde você estava no meu apartamento, vinha para sala ao acordar e ficava me vendo tomar chá enquanto lia sentada na minha poltrona com uma camiseta sua. Não que eu quisesse lembrar de algo tão profundo do nada, apenas senti que por motivos óbvios não vai ser com você que essa utopia será realizada. Talvez nunca seja, porque situações utópicas não são realizadas, por mais que os indivíduos envolvidos estejam juntos.
Lembrei que não dói mais também, depois de tanto tempo. Podem me chamar de sem coração ou dizer que tamanho progresso foi causado nada mais nada menos do que pela falta de amor. Não é isso, apenas vejo que não adianta ficar sofrendo por algo que já acabou. Pra que ficar rastejando, sofrendo, mendingando algo que não vai voltar mais ao invés de seguir em frente e tentar fazer outras coisas que substituam a falta que a falta faz (ou causa)? Mente vazia é oficina de lembranças que não foram requisitadas e da saudade que não foi convidada a ficar. Por isso preencho a vida com uma grade de horários que não tem nem 15 minutos de intervalo, tento conhecer outros alguém's e fico rindo das situações cotidianas que envolvem os outros. Estranho, não é? Eu escrevendo tudo isso para o nada, sozinha, coisas tão desconexas e aleatórias como eu sou.
Não sei se é sério mas ultimamente ando gostando de alguém, não sei se é aquele fenômeno adolescente chamado "amor platônico" mas sei que não é causado pela carência. A pessoa não tem nada a ver com a outra que se foi, é muito diferente por sinal, mas tem algo curioso que me atrai e não sei o que é. Não, amor platônico não deve ser porque consigo falar com a pessoa sem embaraços. Ela é linda por sinal. Não que eu alimente esperanças quanto a pessoa é só que admirar alguém assim desse jeito é algo que eu não fazia há muito tempo, conhecer alguém por vontade própria e com os meus pés no chão é algo que nunca havia feito antes.
Ultimamente também lembrei das tardes e das besteiras que conversávamos aí me pergunto se você lembra disso ou foi apenas algo passageiro, um passatempo. Prefiro pensar na primeira hipótese porque não quero rancor no meu peito. As músicas ultimamente me deixam tão feliz, até aquelas que me lembravam você, isso é tão incomum e nunca aconteceu comigo. O otimismo que tem me dominado também é algo novo. A vontade de manter a paz com todo mundo também. Acho que estou mudando e por deus se tudo isso foi graças a sua partida, tenho que te agradecer. É meio incomum eu evoluir com perdas, então me sinto estranha ao mesmo tempo que feliz.
Fica aqui registrada a conclusão das minhas nostalgias e devaneios causados mais uma vez pela minha xícara de café.